II LAWCN 2019

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Paulo Metri decifra o enigma dos leilões de petróleo - artigo no Viomundo


Este artigo foi originalmente publicado no blog Viomundo, no dia 29 de janeiro de 2013. Este é o link:

Todo mundo sabe que eu não gosto muito do Lula (é meio óbvio que o autor fala no texto abrixo como se fosse o Lula). Mas eu gostei bastante desse artigo porque escancara as coisas como na verdade são. O poder de um presidente é mais limitado do que se imagina. Veja a briga que a Dilma está enfrente na questão das tarifas de energia elétrica. Aliás, a presidenta está me surpreendendo (positivamente) e hoje eu entendo melhor a razão do PMDB na vice-presidência.

Enfim, vamos ao artigo.

Não me decifraste e estás sendo devorado

por Paulo Metri*, no Correio da Cidadania

“Cheguei ao poder com grande apoio popular, graças ao discurso de luta por uma vida melhor para todos, mas também a acordos com os setores mais retrógrados da nossa sociedade. A ‘Carta aos brasileiros’, enigmática ao cidadão comum, representou um recado bem entendido pela elite. Depois de três tentativas frustradas para chegar à presidência, apreendi que as mudanças no Brasil, país com a mídia dominada, têm que ser parcimoniosas. Quase como tendo que haver consentimentos dos que dominam a sociedade.”

“Nunca fui um revolucionário por várias razões. Em primeiro lugar, porque minha natureza é a de um negociador e nunca foi a de um guerreiro, na acepção primeira da palavra. Em seguida, porque o povo, com o presente grau de percepção, não quer uma revolução. Creio até que, mesmo com alto grau de compreensão do mundo, ele também não irá querer. Finalmente, não pode ser esquecido que muitos dos revolucionários têm morte prematura.”

“Contudo, mesmo reformista, orgulho-me em dizer que, durante meu governo, persegui à risca meu discurso de campanha e trouxe uma vida melhor para dezenas de milhões de irmãos. No que era básico para mim, não fraquejei em nenhum instante. Sei que tive erros, praticados consciente ou involuntariamente. Quando errei conscientemente, tenham certeza que estava cedendo a alguma pressão que, se negada, poderia fazer fracassar, por exemplo, todo o projeto de inclusão social em curso.”

“Troquei opções sem correlação alguma, mas que o momento as transformava em moedas de troca. Sem corresponder à realidade, só para ajudar o entendimento, me deparava com dilemas do tipo: receber apoio da bancada secreta e poderosa dos banqueiros a uma política externa independente em troca do atendimento aos interesses pecuniários deles. A capacidade de mobilização deles no Congresso só é comparável à da bancada ruralista. Assim, reconheço que existiram setores cujos desempenhos deixaram a desejar. Não avancei muito na reforma agrária, por exemplo, o que me deixa frustrado.”

“Aprendi com muitos dos que estavam ao meu lado, mas o ministro das Relações Exteriores do meu governo tem um crédito especial comigo. Resumiria o que aprendi com ele, desta forma: ‘não se é grande em nível internacional, se não se imagina grande, não se planeja para ser grande e não se age de forma grandiosa’. Hoje, creio que abri muito a guarda na entrega do petróleo nacional, a menos de quando retirei 41 blocos do Pré-sal da nona rodada. Falo das rodadas de leilões do nosso petróleo. Segundo o ensinamento aprendido, entregar petróleo sem quase nenhum usufruto para a sociedade não corresponde a ‘agir de forma grandiosa’. Mas, só fiquei consciente deste fato quando o término do meu governo estava próximo.”

“Têm instantes que tenho vontade de dizer à minha sucessora: ‘Não faça isto!’ Digo isso com relação à décima primeira rodada, que foi recentemente aprovada por ela. Ainda mais que querem agora ofertar, também nesta rodada, além dos blocos inicialmente previstos, aqueles oriundos da fracassada oitava rodada. O objetivo escamoteado é diminuir por asfixia financeira a participação da Petrobras nas futuras concessões. Assim, mais blocos serão destinados às empresas estrangeiras ainda sob a lei socialmente incorreta no 9.478. Bem que os petroleiros sempre disseram que o Brasil não precisa ter pressa para produzir petróleo, pois a Petrobras já garante seu abastecimento por mais de 40 anos. Porém, não falo com minha sucessora, pois, afinal de contas, o governo é dela.”

“Por isso, acusam, com certo grau de razão, que meu partido e eu somos pouco conscientes com relação à questão nacional. Sem ser xenófobo, hoje, creio que há necessidade de se privilegiar a exploração das riquezas nacionais da forma que mais beneficia a nossa sociedade, o que ocorre em geral com empresas genuinamente nacionais. Enfim, ninguém está completamente pronto para ser presidente.”

“Entretanto, a recuperação dos salários, o aumento do número de pessoas empregadas, a ampliação e o acréscimo do valor do Bolsa-Família, o aumento do número de universidades públicas, a ampliação das vagas disponíveis nas existentes e o Pro-Uni são algumas das realizações das quais me orgulho. Enfim, durmo tranquilo. Fiz tudo que queria e podia fazer e, muitas vezes, tive que criar com esforço condições para as coisas boas acontecerem.”

“Se vocês tivessem entendido tudo isso e dado mais apoio político a mim ou a qualquer outro governante socialmente comprometido, mais poderia ter sido conquistado. A verdade é que quem lhes devora não sou eu, contrariando o enigma da esfinge. São os cartéis, inclusive muitos estrangeiros, que ainda não foram enquadrados. Estão soltos porque não há reação de vocês. Contudo, sei que, com a atual mídia controlada pelo capital, fica difícil o povo tornar-se consciente. A menos que, aos poucos, ele migre para canais de informação mais honestos.”

Neste ponto, acordei da minha divagação, na qual buscava explicações racionais, ou seja, buscava decifrar.

*Conselheiro do Clube de Engenharia

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os que devem morrer - de Mauro Santayana

Recebi por e-mail o link para essa (mais uma) brilhante postagem do Mauro Santayana. Estou ficando fã desse camarada. Tenho que compartilhar com vocês...


Os que devem morrer - de Mauro Santayana


A ciência prolonga a vida dos homens; a economia liberal recomenda que morram a tempo de salvar os orçamentos. O Ministro das Finanças do Japão, Taso Aro, deu um conselho aos idosos: tratem logo de morrer, a fim de resolver o problema da previdência social.

Este é um dos paradoxos da vida moderna. Estamos vivendo mais, e, é claro, com menos saúde nos anos finais da existência. Mas, nem por isso, temos que ser levados à morte. Para resolver esse e outros desajustes da vida moderna, teríamos que partir para outra forma de sociedade, e substituir a razão do “êxito” e da riqueza pela ética da solidariedade.   

Ocorre que nem era necessário que esse senhor Taso Aro – que, em outra ocasião, ofereceu o Japão como território seguro para os judeus ricos do mundo inteiro – expusesse essa apologia da morte. A civilização de nosso tempo, baseada no egoísmo, com a economia servidora dos lucros e dos ricos, e, sobretudo, dos banqueiros, é, em si mesma, suicida.

É claro que, ao convidar os velhos japoneses a que morram, Aro não se refere aos milionários e multimilionários de seu país. Esses dispensam, no dispendioso custeio de sua longevidade, os recursos da Previdência Social e dos serviços oficiais de saúde de seu país. Todos eles têm a sua velhice assegurada pelos infindáveis rendimentos de seu patrimônio.

Os que devem morrer são os outros, os que passaram a vida inteira trabalhando para o enriquecimento das grandes empresas japonesas e multinacionais. Na mentalidade dos poderosos e dos políticos ao seu serviço, os homens não passam de máquinas, que só devem ser mantidos enquanto produzem, de acordo com os manuais de desempenho ótimo. Aso, em outra ocasião, disse que os idosos são senis, e que devem, eles mesmos, de cuidar de sua saúde.

Não podemos, no entanto, ver esse desatino apenas no comportamento do ministro japonês, nem em alguns de seus colegas, que têm espantado o mundo com declarações estapafúrdias. O nível intelectual e ético dos dirigentes do mundo moderno vem decaindo velozmente nas últimas décadas. Não há mistério nisso. Os verdadeiros donos do mundo sabem escolher seus serviçais e coloca-los no comando dos estados nacionais.

São eles, que, mediante o Clube de Bielderbeg e outros centros internacionais desse mesmo poder, decidem como estabelecer suas feitorias em todos os continentes, promovendo a ascensão dos melhores vassalos, aos quais premiam, não só com o governo, mas, também, com as sobras de seu banquete, em que são servidos, além do caviar e do champanhe, o petróleo e os minérios, as concessões  ferroviárias e nos modernos e mais rendosos negócios, como os das telecomunicações.

A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ONG denuncia monopólio da mídia no Brasil

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Notícia publicada originalmente no website da Carta Capital, em 24/01/13, no website:

PARIS (AFP) – A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou nesta quinta-feira 24 o monopólio midiático no Brasil, que parece “pouco modificado, 30 anos após a ditadura militar (1964-1985)”.
A ONG definiu o Brasil como o “país dos 30 Bersluconi”, em referência ao magnata italiano da mídia e ex-primeiro ministro italiano.
Uma investigação da RSF, realizada em novembro e revelada nesta quinta-feira, mostra que fora uma dezena de grupos que dividem o monopólio da informação principalmente no eixo Rio-São Paulo, o País “conta com múltiplos meios de comunicação regionais, fragilizados pela extrema dependência em relação aos grandes centros de poder nos estados”.
Uma tutela que afeta diretamente a independência” da imprensa, além de ser um “vetor de insegurança”, ressalta a organização. A ONG lembra que 11 jornalistas e blogueiros foram assassinados no Brasil em 2012, o que coloca o país na quinta posição entre as nações com mais registros de mortes na área. Dois outros foram forçados ao exílio por questões de segurança.
No ano passado, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) colocou o Brasil na lista dos países mais perigosos para o exercício da profissão na América Latina, onde 19 assassinatos de jornalistas foram denunciados, seis deles no Brasil.
Devido a este cenário, a organização considerou o Brasil como uma espécie de “país dos 30 Bersluconi”.
O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de sua sociedade civil”, explica a ONG de defesa da liberdade de imprensa.
O colosso parece ter permanecido impávido no que diz respeito ao pluralismo, um quarto de século depois da volta da democracia”, assinala a RSF.
Segundo a ONG, um dos problemas endêmicos do setor da informação no Brasil é a figura do magnata da imprensa, que “está na origem da grande dependência da mídia em relação aos centros de poder”.
Dez principais grupos econômicos, de origem familiar, continuam repartindo o mercado da comunicação de massas”, lamenta a RSF.
Sempre segundo a RSF, a este sistema se acrescenta a censura na internet e denúncias que levaram ao fechamento de blogs durante as eleições municipais de 2012.
Nesse sentido, citou o caso do diretor do Google Brasil, que ficou preso brevemente por não retirar do YouTube um vídeo que teoricamente atacava um candidato a prefeito.
A organização faz referência a Fábio José Silva Coelho, que foi preso pela Polícia Federal em setembro passado a pedido do candidato a prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal.
Para reequilibrar o cenário da mídia brasileira, a Repórteres Sem Fronteiras recomenda reformar a legislação sobre a propriedade de grandes grupos e seu financiamento com publicidade oficial, assim como a melhoria da atribuição de frequências audiovisuais para favorecer os meios de comunicação e um novo sistema de sanções que não inclua o fechamento de mídias ou páginas, entre outras medidas.
Leia mais em AFP Movel.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ainda sobre o BBB

Assisti a esse filme recentemente e acho que tem muito a ver com o meu último post sobre o BBB. Apesar da qualidade cinematográfica mediana e uma certa carga de preconceito, eu recomendo muito!


Abraços!
VRC

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sobre o BBB e o criticismo

Salve pessoal, 

Esse é outro post que veio de uma resposta no facebook. 



Essa é a minha resposta (o comentário original vem mais abaixo):


Eu adoro picanha argentina, muqueca capixaba, comida tradicional nordestina ou comida japonesa e fico numa grande alegria quando tenho a oportunidade de experimentar alguma comida exótica ou regional, como a káposzta húngara. De vez em quando eu também como um McDonald's com coca-cola ou mesmo uma coxinha.

Eu adoro filmes cult do cinema europeu como Rocco e Suoi Fratelli e as Bicicletas de Belleville ou um americano cabeça como Syriana. Outras vezes eu sintonizo no Jason Stathan dando porrada em todo mundo. Já o BBB eu não engulo (opção minha).

Estou falando tudo isso simplesmente para dizer que até um rabugento como eu gosta das coisas mundanas do prazer carnal. É uma parte importante da psiquê humana que tem que ser valorizada e alimentada (lembro do livro do Pierre Veil: O Corpo Fala). Nesse sentido, eu considero BBB válido como entretenimento de baixa qualidade intelectual, como McDonald's com coca-cola é de baixa qualidade nutritiva mas ainda assim válido como culinária.

O que me irrita nesse tipo de post e na situação como um todo são duas coisas:

1) A crítica à crítica. Há uma corrente cada vez mais forte para nos transformar em anencéfalos apáticos que não emitem opinião sobre coisa alguma. Bom, a liberdade permite que cada um consuma o entretenimento que quiser, mas ela também permite que eu diga convicto de que BBB é uma bosta (perdoem-me o francês) e lixo cultural da pior espécie, pois se baseia na exploração rasteira de idiotas submetidos ao ridículo por migalhas. Por outro lado, permite que a Natália aí de cima diga que gosta do BBB, apesar disso, e que é um escroto que se acha superior quem diz que BBB é uma bosta. Beleza, tudo é válido e ela ser uma idiota e eu um escroto é melhor do que não sermos coisa alguma. Assim, a qualidade do BBB como entretenimento, bem como futebol, política e religião, são das coisas que mais temos que discutir. E deixe estar a diferença, deixe vir as críticas, que não são fúteis de jeito algum! 

2) A Globo como veículo de entretenimento. Apesar de aceitar como democraticamente legítima a veiculação do lixo como opção de entretenimento, incomoda-me muito a exclusividade desse padrão cultural. A Globo só traz lixo, só o da pior espécie. Para mim, o que os executivos da Globo querem dizer com isso é que eles consideram a população um amontoado de imbecis que não consegue apreciar coisa alguma além da esquete humorística repetida à exaustão, a vergonha alheia, a exposição ao ridículo, a fofoca e o noticiário mercantil, político partidário de direita e de tablóide. Esta emissora me ofende como telespectador e é por isso que, há um bom tempo, eu não mais a assisto. Confesso que eu tenho um verdadeiro preconceito de tudo que vem da Globo. Incomoda-me muito, ainda, a razão por trás da manutenção desse padrão que, na minha opinião, é manter a população sem capacidade de introspecção ou reflexão intelectual, ao mais belo estilo pão e circo. Irrita-me como ninguém mais quer saber de desenvolvimento intelectual, não só não mais valorizando a cultura, mas na verdade a menosprezando. 

Antes eu tinha asco pela ignorância. Hoje, retificado, percebi que muitas vezes a ignorância não é uma escolha, mas sim, uma fatalidade. Por isso, meu asco agora é pelo desejo de ignorância que tantos brasileiros carregam. A do poder constituído, execrável na mesma medida, é, ao menos, mais compreensível.

Mas enfim, posso estar errado. Fiquem à vontade para criticar. Talvez eu responda, talvez não.


Minha resposta foi a esse comentário:


BBB e a futilidade (de quem critica)

Chegou aquela época em que não podemos falar em BBB que na hora aparece alguém dizendo “parem de falar desse lixo, BBB não é cultura”. E quem disse que eu assisto BBB pra ficar mais culta? O legal é que a maioria dessas pessoas ainda nem completaram o Ensino médio e leram pouquíssimos livros na vida. Não que eu me importe com a questão dos livros, porque pra mim lê quem quer e apenas fazer isso não confere o título de ”fodão” a ninguém.

O que me irrita é esse pedantismo todo. Essa de ”sou bom demais pra ver essa porcaria que não é cultura”. Meu amigo, isso é um programa de entretenimento. A gente não vê pra ficar mais inteligente, a gente vê pra passar o tempo, se divertir, dar umas risadas, sentir vergonha alheia. Já pensou se todo mundo pensasse assim? A vida seria uma bosta. “Ah, não vou mais à praia porque praia não vai acrescentar nenhuma cultura à minha vida”, “Ah, não vou mais mais sair pra dançar com meus amigos porque isso não vai me deixar mais inteligente”, e assim sucessivamente.

O povo quer rir, quer chegar em casa depois de um dia cheio e estressante no trabalho e relaxar. Quer ver BBB? Lindo. Quer ler um livro? Ótimo. Quer simplesmente dormir? Beleza. As pessoas têm uma mania muito escrota de tentar se colocar superior às outras, como se isso as tornasse melhor. Vou contar uma coisinha: isso só faz de vocês uns chatos.

Falei sobre isso no twitter e um seguidor se atreveu a comparar BBB com filantropia, dizendo que as pessoas deveriam investir tempo ajudando quem precisa. ALGUÉM MERECE LER UMA PORRA DE COMPARAÇÃO DESSAS? Esse não deve nem doar roupa pra Igreja, coitado. Outro falou que o Brasil está uma merda por causa do BBB. Ah se esse povo investisse tempo protestando contra os políticos e prefeitos coronelistas que tiram tudo de gente que não tem nada… Mas estão ocupados demais votando no Tiririca como “protesto” e criticando o BBB na internet.

BBB é um programa pra passar o tempo e se divertir, e eu não espero nada mais dele. E se você espera, o único burro aqui é você."

- Natália Penas 


Abraços web-náuticos.
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