II LAWCN 2019

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A ciência liberta? Artigo de Sidarta Ribeiro

Segue um excepcional artigo do amigo Sidarta Ribeiro retirado do Jornal da Ciência de 11 de dezembro de 2012, neste link: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85330

6. A ciência liberta? Artigo de Sidarta Ribeiro
Sidarta Ribeiro é professor titular de Neurociências e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Artigo publicado na revista digital* do escritório de advocacia Rubens Naves - Santos Jr - Hesketh.
No Ocidente economicamente desenvolvido, a ciência funciona há vários séculos como articulação eficaz entre tecnologia e economia, fonte de explicações ontológicas testáveis e diapasão empírico da racionalidade. Por servir criativamente à acumulação de capital da classe dominante, gerando ganhos de produtividade crescentes ao longo do tempo, a ciência foi denunciada desde os anos 1960 como mera ideologia de dominação. Nessa crítica oriunda do campo esquerdo do espectro político, a ciência deve ser encarada não como uma forma aproximativa de obtenção de conhecimento verdadeiro, e sim como um modo conservador de ver e, sobretudo, utilizar coisas e pessoas.

O anticientificismo pós-moderno se recusa a enxergar a ciência como ferramenta para a transformação social, a libertação de crenças nefastas e o progresso humano. Ao rejeitar o potencial revolucionário da ciência, esse ramo do pensamento de esquerda alia-se curiosamente ao seu oposto político, a extrema direita que nega ou enviesa o discurso científico de modo irracional, a fim de preservar o status quo do mercado e do Estado.

Três questões candentes da atualidade servem de exemplo desse entrincheiramento ideológico: a crise do meio ambiente, a proibição das drogas e a política de remuneração dos professores.

Dois debates globais - O planeta atravessa uma crise ambiental sem precedentes, fruto da explosão populacional humana, da utilização desmedida de combustíveis fósseis, da exploração destrutiva dos habitats, da extinção em massa de espécies e da rápida transformação de tudo que se fabrica em lixo. Não apenas se acelera o aquecimento global, mas também cresce a variação sazonal das temperaturas, gerando chuvas e secas excessivas que destroem colheitas e ameaçam o suprimento mundial de alimentos.

A despeito de todas essas evidências, a mídia continua a dar voz aos ideólogos que, movidos por interesses econômicos inconfessáveis, sustentam não haver base científica para preocupação. Usando dados falsos ou distorcidos, políticos pedem tolerância com a irresponsabilidade poluidora das empresas e dos cidadãos. Enquanto isso, a ciência acumula um corpo de evidências demolidor sobre o desastre ecológico em curso.

A questão da proibição das drogas é outro campo em que a ciência enfrenta o obscurantismo. A regulação isonômica de drogas com potencial danoso semelhante é uma exigência da racionalidade. Mesmo assim, drogas de baixo potencial danoso como a maconha e o ecstasy continuam a ser proibidas, enquanto drogas mais danosas como o álcool e o tabaco são legalizadas.

Estudos econômicos e sociológicos demonstram que a proibição, por si só, gera a corrupção, ignorância e violência que alicerçam o mercado negro, este, sim, impermeável à regulação de qualidade dos produtos comercializados, franqueado à eliminação física da concorrência e liberado do pagamento de impostos. A neurociência, por sua vez, esclarece que vários dos efeitos adversos do uso de drogas decorrem do medo inerente a uma experiência proscrita.

Não havendo base científica para a proibição em seus termos atuais, ideólogos travestidos de psiquiatras pinçam seletivamente alguns resultados publicados na literatura científica para induzir pânico moral e convencer a população de que o risco do uso de drogas justifica a guerra contra elas. Na prática, assassinato, achaque e prisão de milhares de jovens pobres nas periferias do mundo.

Distorções na educação - A política salarial dos professores é mais um caso alarmante de cegueira em relação ao saber científico. Em todo o mundo, o sistema de incentivos docentes colide frontalmente com fatos bem estabelecidos pela psicologia e neuroeconomia. A relação entre incentivo e motivação obedece a uma função sigmoide, parecida com um "S" estendido nos dois lados. Isso significa que, para incentivos muito pequenos ou muito grandes, não aumenta a motivação quando aumenta o incentivo. Por essa razão, uma política salarial que busque aumentar a motivação dos professores precisa acontecer na faixa intermediária, em que aumentos de incentivo levam a aumentos correspondentes de motivação. Mas não é o que ocorre.

Em quase todo o mundo, professores que dão aulas para crianças são extremamente mal pagos, no extremo esquerdo da sigmoide, apesar de atuarem na etapa mais difícil e decisiva da formação escolar. Por outro lado, professores que dão aulas para alunos de pós-graduação, servindo portanto a um público já educado e privilegiado, recebem salários 10 ou 15 vezes maiores.

Enquanto não houver uma equiparação salarial entre magistério e ensino superior, com valores condizentes com a função essencial exercida pelos professores em todas as etapas do processo educacional, não haverá uma política salarial racional para a docência.

"Adaptação transformadora" - Mas, afinal, a ciência é intrinsecamente regressiva da condição humana? É claro que não. Há outra narrativa a ser considerada. Com os avanços da arqueologia, paleontologia e biologia molecular, a história da espécie nos últimos dois milhões de anos vai ficando clara. Nossos ancestrais eram belicosos canibais que, organizados pela fala e munidos de ferramentas, domaram o fogo, as plantas e os animais. A guerra foi fundamental para nossa evolução, mas agora é preciso acabar com ela.

O saber técnico, pai da ciência, criou pressões seletivas novas. Hoje vivemos a era da abundância de alimentos que só é possível por causa da ciência agronômica. Já não faz sentido ter muitos filhos como força de trabalho ou combate. Já não faz sentido ser avaro ou violento, agora é adaptativo cooperar.

É justamente a ciência que gera os excedentes de que necessitamos para nos libertarmos do excesso de trabalho, como propôs Marx. Devemos à ciência os computadores e a internet, que lançam as bases de uma verdadeira democracia planetária, em que todos terão acesso à informação e poderão participar das decisões - potencial que precisamos realizar.

As mudanças são vertiginosas e torna-se mais difícil prever o futuro. Mais do que nunca, a ciência precisa ser defendida e apropriada por todos que desejam a paz na Terra.

* A edição nº 12 da publicação digital do escritório de advocacia Rubens Naves - Santos Jr - Hesketh pode ser lida no site www.rubensnaves.com.br e está nas bancas, em versão impressa, encartada na edição de dezembro (nº 65) do Le Monde Diplomatique Brasil.

** A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Evolução

Caros amigos, evolui.

Depois de uma seqüência de carros simples e usados, resolvi investir uma parte do meu patrimônio na qualidade de vida automobilística minha e de minha família. Quis algo que me desse conforto e segurança a um preço adequado (em termo de Brasil, onde os preços são simplesmente abusivos).

Comprei o Chevrolet Cobalt LT 1.4 zero km na concessionária.

Tá aqui as fotos da viatura (como diria o meu irmão) com alguns "populares" atrapalhando:

Pois bem, comprei porque meu carro não mais me atendia. Provavelmente nunca me atendeu, mas foi o que eu podia comprar na emergência do segundo filho nascendo e eu rodando de bicicleta pela cidade. Mas, justiça seja feita, o Uninho foi um guerreiro. Carregou-me e a minha família por não menos que 30 mil km, com pouquíssimas surpresas e admirável agilidade. Adorei o carrinho!

Entretanto, ele não aguentava mais. Estava cansado e dava claros sinais disso. Nunca pôde oferecer toda a segurança para quem carrega dois meninos e patroa na selva das estradas brasileiras. Então, juntei a necessidade com os ventos favoráveis do IPI baixo e resolução de alguns problemas financeiros, e adquiri o Cobalt.

E por que o Cobalt? - perguntaria meu leitor. Porque ele é o que melhor reúne aquilo que desejo e necessito. Explico-me

É um carro muito seguro. Conta, já em sua versão intermediária (LT) com AIRBAG e ABS com EBD, itens então indispensáveis para mim, já que ia gastar dinheiro com carro novo. Tem direção hidráulica, ar condicionado, vidros elétricos, alarme e trava. É bonito, para quem é capaz de apreciar design para além do estilo esportivo / arrojado / futurístico. É muito confortável: além dos itens acima, uma suspensão macia que não prejudica estabilidade e um ótimo nível de ruído interno, ainda tem um espaço interno admirável: 563 L de porta-mala com entre-eixos de 2,68 m, apesar de ser sedã compacto. E, no mais, tem um preço bem razoável, levando em conta o extorsivo mercado automobilístico brasileiro.

Se você quer um carro ágil, esperto nas estradas, com potência, esse NÃO É o carro para você. O Cobalt é um carro tranqüilão, que não se apressa. Chegou nos 180 km/h ele corta a aceleração e, assim, evita a super adrenalina (180 km/h, fala sério, não é suficiente?). Aceleração e retomada, ainda que boas, são piores que a do Voyage por exemplo. Para as ultrapassagens, tem que se ter a segurança de uma boa distância de contra-mão.

E quer saber? Eu acho isso tudo muito bom! Primeiro porque dificilmente vou passar dos 110 km/h, chegando no máximo a uns 140 km/h num retão da 040 e olhe lá. Portanto, o que o Cobalt entrega é mais do que o necessário para mim. Além disso, a tchurma da adrelina não vai comprar esse carro, não vai se alucinar na estrada ou na cidade, aumentando o índice de sinistro e encarecendo o seguro. Aliás, o valor do seguro desse carro é uma de suas vantagens reais.

No mais, é um carrão. Ele flutua nas ruas e na estrada. Tem segurança e conforto. É tranqüilão sim, assim como um pai de família com a cabeça no lugar. E, em termos de Brasil, o preço é bom.

Ou seja, é tudo que eu queria. Obviamente existem carros melhores, mas nenhum que eu possa pagar no momento.

Enfim, recomendo muito para quem tem meu perfil: pai de família, que já abandonou a adolescência que precisa de carros esportivos. Estou satisfeito. E para quem é da adrenalina, por gentileza, façam um favor a vocês e a todos nós: detestem esse carro.

Curiosidade: quem quiser saber da minha história automobilística, leiam:


Os veículos mostrados lá são:

Corsa GL 1.4 95/96 em 2004
Palio Weekend Stile 1.6 16V 99/00 em 2007
Celta 1.0 04/04 em 2007
BACINI 21V 2009 em 2009 (É UMA BIKE!)
Uno Mille Smart 1.0 00/01 em 2010

Abraço forte!
Vinícius

sábado, 24 de novembro de 2012

E assim caminha a humanidade

Outubro de 2004 a maio de 2007





Junho a julho de 2007 


Agosto de 2007 a janeiro de 2009




Fevereiro de 2009 a junho de 2010


Julho de 2010 a 23 de novembro de 2012




24 de novembro de 2012 em diante...


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Aluna da Bioengenharia da UFSJ recebe prêmio em Pernambuco

Nesta última quinta-feira, dia 4 de outubro, a mestranda Jasiara Carla de Oliveira, do Programa de Pós-graduação em Bioengenharia (PPBE), vinculado aos docentes do Departamento de Engenharia de Biossistemas (DEPEB), ganhou o prêmio Cândido Pinto de Melo, concedido pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, durante o XXIII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica, que ocorreu de 1° à 5 de outubro, em Porto de Galinhas, PE. O prêmio é entregue aos autores dos três melhores artigos científicos publicados nos anais do congresso.

O artigo da aluna da UFSJ intitulado "Influência dos parâmetros da estimulação elétrica na supressão de crises por pentilenotetrazol" foi considerado o segundo melhor artigo científico dentre quase 750 trabalhos. Orientado pelo professor Vinícius Rosa Cota (DEPEB), o trabalho aborda os resultados do mestrado da aluna, que investigou, em ratos submetidos ao modelo de crises por pentilenotetrazol, qual combinação de parâmetros da morfologia da estimulação elétrica dessincronizante (não-periódica) maximizam a eficiência deste tratamento das Epilepsias, analisando como estes parâmetros agem na sincronização neural (do nível celular ao sistêmico). Todas as etapas do trabalho, desde sua concepção, os experimentos, a análise dos dados e até a redação do artigo, foram desenvolvidos inteiramente nas instalações do Laboratório de Neurociência Experimental e Computacional (LANEC) do DEPEB / UFSJ, no âmbito do PPBE, com auxílio financeiro da CAPES, FAPEMIG e CNPq.

Além da Jasiara, outros cinco alunos do LANEC, todos pós-graduandos do programa na área de Bioengenharia de Sistemas Neuronais, ficaram classificados entre os 30 finalistas para concorrer ao prêmio.

Jasiara comenta que além do certificado e do prêmio em dinheiro, o mais importante para ela e seus colegas “é trazer de Porto de Galinhas a satisfação de colocar o nome da UFSJ onde é seu lugar: no topo da lista da excelência científica brasileira”.


Da esquerda para direita: Prof. Eduardo Tavares Costa (presidente da SBEB), Prof. Dr. Renato E. de Araújo (organização do XXIII CBEB), Jasiara Carla de Oliveira (mestranda do PPBE/UFSJ), Prof. Dr. Sérgio Santos Muhlen (presidente do concurso Cândido Pinto de Melo).

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Notícia originalmente publicada pela Assessoria de Comunição da UFSJ no portal da universidade, em 11/10/2012: http://www.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?codigo_noticia=3447

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A necessária priorização no apoio às universidades federais, artigo de Wanderley de Souza


Gostei muito da reflexão do Professor Wanderley e, por isso, tomei a liberdade de reproduzir seu texto aqui, originalmente publicado no Jornal da Ciência num. 4589 de 24 de setembro de 2012 (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84269).

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Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, diretor de Programas do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Artigo publicado no Jornal do Brasil de domingo (23). 

Recentemente, a Folha de São Paulo publicou importante análise sobre as universidades brasileiras (http://ruf.folha.uol.com.br/). Vários critérios foram utilizados na avaliação de 232 instituições, e os resultados obtidos deixam claro que é possível identificar um conjunto de instituições que estão sempre entre as 10 primeiras, qualquer que seja o critério analisado. Entre elas destacam-se três universidades estaduais mantidas pelo governo do estado de São Paulo: USP, Unicamp e Unesp. Encontram-se ainda sete universidades federais: UFRJ, UFMG, UFRGS, UFPR, UnB, UFSC e UFPE. Estas se destacam em praticamente todos os campos do conhecimento.

Desde logo, cabe ressaltar que os resultados obtidos não trazem grandes surpresas. Logo, seria natural que o MEC e o MCTI, em associação com outros ministérios setoriais, aproveitassem este resultado para desencadear um projeto de apoio específico a estas instituições, estabelecendo metas muito bem definidas, visando colocá-las em um período de dez anos entre as cem melhores universidades do mundo. Para tal, contratos de gestão poderiam ser estabelecidos com acompanhamento e avaliação permanentes. Não tomar esta atitude, com receio da natural reação das demais universidades, é fugir à responsabilidade que se espera de quem tem compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do País.

Os dados publicados também deixam clara a existência de outras universidades com forte atuação em determinados setores. Destaco aqui a Unifesp, centro de excelência na área médica, bem como Viçosa e Lavras, instituições tradicionais no setor agropecuário. Nestas áreas, estas instituições também deveriam contar com apoio especial, tal como mencionado acima. Cabe ainda ressaltar que o País não pode descuidar de suas várias regiões, e um programa semelhante deveria ser formulado para apoio à UFPA, UFCE e UFBA.

Finalmente, antes que receba duras críticas de colegas das instituições não citadas, defendo a posição de que todas recebam o devido apoio para que se desenvolvam e que, a cada dois anos, aquelas com melhor desempenho possam gradativamente se incorporar ao conjunto daquelas mencionadas acima. Todos devemos estar conscientes de que sem termos a coragem de estabelecer prioridades, continuaremos ocupando posições não compatíveis com o atual estágio da ciência brasileira bem como da sua posição econômica entre as nações.

Quando existem várias instituições ou organizações atuando em um determinado setor, é sempre importante avaliar seus desempenhos e estabelecer comparações entre elas. Surgem assim os chamados "rankings", tão importantes como controversos. Quando tais avaliações são feitas em instituições de ensino superior e de pesquisa, constituídas sobretudo pelas universidades, a comparação é mais complexa, uma vez que no Brasil, infelizmente, ainda não tivemos a coragem de separá-las em três grupos distintos: (a) aquelas que se dedicam à atividade de pesquisa na grande maioria das suas unidades e departamentos, e que são poucas e concentradas sobretudo em instituições públicas; (b) as que se dedicam principalmente à atividade de formação de recursos humanos, constituindo a maioria e concentradas nas instituições privadas; (c) aquelas que atuam no ensino, mas também procuram fazer pesquisa científica e tecnológica, ainda que em poucas áreas do conhecimento, estando concentradas principalmente entre as instituições públicas e algumas privadas.

Infelizmente, a comunidade acadêmica ainda não se conscientizou de que todas são importantes e que não há demérito em uma instituição se dedicar principalmente ao ensino, formando profissionais altamente qualificados para atender às necessidades crescentes do mercado em um país em processo de desenvolvimento. Talvez o fato de designar todas estas instituições como universidade esteja na raiz das dificuldades em entendê-las e classificá-las.

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O novo código florestal: uma ponderação


Caros nautas, estou de volta.

Hoje eu gostaria, como diria meu amigo Sidarta, de "destampar uma panela". A panela é a do novo código florestal e as respectivas campanhas pró e contra.

Verdade seja dita, por um bom tempo me ausentei dessa discussão, pela única razão de ter encontrado dificuldades em formar uma posição convicta, ou mesmo de contribui para a discussão. Confesso que me deixei alienar; outros assuntos mais urgentes me exigiram a dedicação e acabei aprendendo muito pouco a respeito dessa nova lei.

Assim, para não cometer uma desonestidade intelectual, nunca "curti" no facebook os links e imagens da campanha "Veta Dilma" e nem me pronunciei em qualquer das mídias que uso. Afinal de contas, eu não estava informado o suficiente. Mais ainda, sempre achei que posições extremas raramente contribuem para uma solução, seja de qualquer dos dois lados da discussão: tanto a ganância do agronegócio inescrupuloso quanto a estupidez dos ecochatos "abraça-árvores". Eu sentia que a nova lei pendia muito para aquele primeiro lado e a campanha do veto pendia muito para este segundo lado.

Tomei coragem de lançar meu tempero nesse preparado quando me deparei com o texto intitulado "O código florestal e a arapuca técnica", assinado por Mauro Santayana e publicado, segundo me consta, no Jornal do Brasil. Eis um link para o artigo:

http://www.vermelho.org.br/ro/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=184005

Este é, na minha opinião, um dos melhores textos que li a respeito do tema. A razão disso é que o autor é muito feliz ao ponderar bem a questão, revelando o risco social de posições extremas, em ambos os lados da discussão. Se por um lado a óbvia voracidade do novo código é escancarada, por outro se sugere que a preservação desinformada pode, por sua vez, também atender interesses bem menos nobres.

No mais, o caminho a se seguir é entender que é falsa a dicotomia desenvolvimento econômico versus preservação dos recursos naturais. O termo Desenvolvimento Sustentável virou clichê antes de ser posto em prática só por conta de um mau uso excessivo nas propagandas das grandes empresas.

A boa notícia é que a sociedade já conta com um robusto conjunto de reais soluções técnico-científicas para o problema. Eu que não sou da área conheço várias. Uma em particular, que despertou meu interesse, é muito pouco divulgada, mas tem enorme potencial. São os sistemas silvopastoris para o agronegócio sustentável, onde gado e floresta convivem de maneira ecologicamente sustentável e economicamente vantajosa.

Sistema silvipastoril

Isso é só um exemplo, pois existem muitas outras idéias interessantes, fáceis de colocar em prática e eficientes na viabilização do desenvolvimento sustentável. O que não existe, e essa é a má notícia, é vontade política, sobrepondo-se, assim, a resistência de vários setores do capital...

Enfim, essa é minha ponderação.

Abraços,
VRC

domingo, 8 de janeiro de 2012

Dinheiro, riqueza, miséria, mérito e mediocridade.

Hoje vi um vídeo no facebook que me deixou indignado, mas na medida certa, sem apelos sentimentalóides, pois hoje estou mais calejado com esse tipo de coisa. Quando escrevi meu comentário, ele acabou ficando grande demais para o formato da rede social, aí resolvi transferir tudo para cá, para o meu blog.


O vídeo é esse:




E o comentário é o que segue abaixo.

Quem trabalha muito, tem inteligência e se esforça para ganhar o seu dinheiro na base do mérito, seja muito ou seja pouco, tem todo o direito de gastar como quiser. Mas não tem direito de rasgar, porque isso é crime (artigo 163, Parágrafo Único, inciso III, do Código Penal Brasileiro.). Ademais, quem age igual o camarada do vídeo, certamente não teve nem a inteligência e nem o mérito para ganhar o dinheiro que rasga. Se tivesse, não o rasgaria, por mais que ele sobrasse. Portanto, o vídeo me revolta sim, porque vejo pessoas tão medíocres vivendo com tanta abundância, enquanto tantos trabalhadores de verdade são tão miseráveis. Quanto ao flagelo humano mostrado no vídeo, fico muito triste em lembrar que ainda existe tanta pobreza numa das maiores economias do planeta. Não só pela miséria em si, mas por constatar que a sexta posição no ranking não passa de uma falácia de marketing: temos muito dinheiro e continuamos miseráveis. Mas eu não saio vendendo tudo que tenho para doar a esses miseráveis. Sabe por que? Porque simplesmente não funciona. Eu faço a minha parte para reverter o absurdo no nosso país de outra maneira: estudo, trabalho, dedico-me, respeito as leis, voto bem (o melhor que posso), protesto, denuncio e, por fim, pago os impostos, mas me revolto muito contra a bandalheira que existe nesse país. Pois a bandalheira não é só dos governantes que não repassam adequadamente o dinheiro dos impostos para salvar a vida desses (e de outros) mortos de fome. É também da mídia sensacionalista e cúmplice que monta vídeos para tentar transferir a resposabilidade da catástrofe humana para pessoas como eu e você que vemos o vídeo e nos sensibilizamos e nos perguntamos se estamos fazendo o suficiente, se a caixa de cerveja do reveillon não foi um excesso cujo valor não poderia ser doado em favor do próximo. A bandalheira é das religiões-empresas que exploram esse nobre sentimento ao máximo para depenar ainda mais o muito pobre e enriquecer ainda mais o muito rico, como têm feito há milênios. E por fim, é do acomodado que simplesmente é levado pela maré e se recusa a entender esse tipo de coisa. Que todos tenhamos um 2012 mais atento e inteligente. E digo mais uma vez: está chegando a hora de começar a meter o pé em algumas portas por aí.

Abraços!