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terça-feira, 1 de abril de 2008

Março foi infernal

Março foi infernal. Como foi infernal. Foi um mês carregado de sobressaltos, sobressaltos ruins.

Comecei Março com o banco me cortando meu cheque especial. Devedor até as tampas como eu sabe a dor de cabeça que isso dá. Cortaram-me também a água do condomínio onde eu moro. Não por ter deixado de pagar, pois isso pago nos trinques. Quem não pagou foi o síndico, fugido, desaparecido, patético e surreal (golpe no condomínio, pelo amor de Deus!!!), deixando um calote de algumas dezenas de milhares de reais com a companhia de abastecimento de água e outros prestadores de serviço. Na verdade não cortaram, mas chegaram perto o suficiente para que fosse necessário reservar água em baldes, emprestar dinheiro ao condomínio para saldar a dívida e racionar água na área de lazer.

Nessa loucura despenca meu anjinho (minha filhinha de dois anos) com uma mononucleose infecciosa que lhe deixa com baço e fígado inchados, com risco de lesão e hemorragia interna. Resultado: quase três semanas fora da escolinha, além do incômodo de febres intermitentes, catarro, tosse e dores abdominais. Como tive que ficar com ela no horário da escolinha, durante todo esse tempo, a execução dos experimentos previstos em meu projeto se complicaram ao infinito, quase inviabilizando a sua conclusão. Aí já viu: lá se vão madrugadas em claro em cirurgias de implante de eletrodos e monitoração da eletrofisiologia de 24 horas.

Então, ela melhorou: maravilha! O médico a liberou para a escolinha para qual ela voltou essa semana, retornando ao porto seguro da rotina. Mas parecia que Março só esperava eu baixar a guarda para me pegar de novo na esquina. E pegou-me: minha tosse seca iniciada na semana anterior presenteia-me com o susto de catarro com sangue. Saldei às pressas as pendências do meu plano de saúde para descobrir uma sinusite, uma infecção pulmonar e suspeita adicional de pneumonia. E lá se vai mais uma grana com remédios... infernal.

Ah, quase ia me esquecendo: quase como um rodapé da demência de Março, trai-me um afeto por quem tanto fiz. Mas disso não quero e não vou falar. Só reforço que é óbvio que não se trata da mais companheira das maravilhosas mulheres da minha vida: minha esposa, cuja afeto, carinho, garra e companheirismo inspiraria avatares da conduta superior.

E hoje, quinta-feira, vou retornando do centro de radiologia tendo descoberto que, felizmente, pneumonia não há (terá sido a própolis diária?). Sinusite sim, há, plenamente incômoda. Vou voltando para casa e resolvo passar pela via costeira, que é uma bela avenida aqui em Natal que separa as praias de resorts do Parque das Dunas. Na rádio, toca uma balada incrivelmente tristonha e melancólica (eu sei que já ouvi essa voz em outra música: “I thought I would see you again”).

Resolvo parar para decidir no alto de um morro real, num cume metafórico: Natal não vai me quebrar. Há fibra suficiente aqui para agüentar. Ah, meus caros amigos, nada disse ainda sobre isso, mas Natal é ardilosa. É uma sacana princesa. Encanta-te com todas as curvas e gingas e, no meio ao místico instante no qual te atiras a ela de braços abertos, em meio a uma chegada mais quente, Natal te sacaneia e te trai com alguém mais abastado. Nem vos conto. Ou conto, mas só depois de amanhã (apud John, 2007).

De qualquer maneira, vou dobrar essa sacana. Vou até as vias de fato com essa gostosa princesa do nordeste, nem que tenha que lhe arrastar pelos cabelos. Sei que sou melhor que essa safada e os safados que lhe fazem o coito.

Aliás, descobri hoje, que meus experimentos conduzidos no meio do inferno trouxeram resultados empolgantes. Também acertei hoje meus ponteiros no banco, estando, agora, numa situação melhor do que antes. Há uma semana atrás preparei talvez, a minha melhor picanha para um casal de amigos valiosíssimos que me carregaram (e à minha família) no colo quando cheguei a Natal. Vou para casa agora, dar a meu corpo o que a alma já ganhou: um longo banho de água fresca.

Abraços!

Vinícius