II LAWCN 2019

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Minha querida Beagá

Caros amigos,

vivo bem em Natal e cheio de saudades da minha amada Beagá, ondei nasci e passei dias espetaculares. De fato, alguns destes melhores dias foi em excepcionais butecos da capital mineira, como no dia em que eu tomei a pílula vermelha. O bar era o Novo Paladar e lá estavam o Márcio, o Léo Bonato e o Zé Elvano. A cerveja era a Bohemia e o tira-gosta era língua de boi ensopada (cigarro de palha Souza Paiol como digestório). Enfim, se quiserem saber mais sobre esta maravilhosa cidade e seus inesquecíveis butecos, dêem uma conferida na matéria que saiu no New York Times, localizada graças ao blog da Bárbara (http://barbaralafeta.multiply.com/journal) que eu, pessoalmente não conheço, mas que é amiga do grande Michel Weiberg.

http://travel.nytimes.com/2007/10/28/travel/28next.html?ref=travel

Aquele abraço!
Vinícius

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sobre religião

Caríssimos,

sei que ando meio verborrágico e que cada post meu é um verdadeiro livro. Pois bem, vou ser breve dessa vez, vou falar sobre religião...

Hehe... o mais desavisado teria corrido pra longe desse blog. Mas calma, calma, não vou discutir religião no meu blog. Não mesmo. Sei o tanto que o tema é polêmico e como amigos podem virar inimigos frente a uma frase sobre o tema que não foi pensada 26 vezes antes de ser falada. Só queria postar uma tirinha de um quadrinho que leio na Internet, chamado Non Sequitur. É que eu achei essa tirinha simplesmente genial, captando a essência do discurso institucional religioso (não necessariamente o doutrinário, mas algumas vezes ele também) e mostrando a visão e o desejo do homem inteligente frente a isso tudo.




Para os que agarram no inglês, a tradução é a seguinte:
Apresentador: "Bem, obrigado por participarem do programa "Meu Dogma é Melhor que o seu", mas, mais uma vez, terminamos em empate."
Quadro à direita, abaixo: "O Reality-show que nunca termina".

Abraços!

Vai Corisco e vem Lampião...

Caros amigos,

Pois é, o ômi pediu arrego, mandou-se de licença de volta para as Alagoas. Nada contra essa terra linda (muito antes pelo contrário), mas já vai tarde Corisco, muito tarde. Aproveita e segue caminho até o inferno. Renan Corisco Canalheiros já estava até fedendo a enxofre na cadeira da presidência do senado. Já vai tarde e, por favor, não volte mais, porque nossas vassouras estão atrás de nossas portas. Já posso tirar o banner da campanha e colocar ele junto do post aqui, que é para a gente se lembrar. Por sinal, mesmo que seja meio difícil afirmar com certeza, acho que a campanha do sensacional Gabeira ajudou a botar pressão para rancar o cão Corisco do seu osso. Por isso, aproveito para deixar o meu parabéns a esse Deputado que representa a personificação do representante que todos gostaríamos de ter em um legislativo quase utópico.




E acho que o infeliz do Renan vai embora deixando mais alegria do que tristeza. Digo isso porque é difícil comemorar completamente porque a cadeira da presidência do senado continua sendo do PMDB, o histórico partido do inoxidável Ulysses Guimarães, que hoje está entregue ao pior tipo de político que existe nesses país (vide episódio da expulsão dos senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon - vide também comentário de Lúcia Hipólito de 5 de outubro de 2007 na rádio CBN - http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/comentarios/politica.asp).

A imprensa tem dito que o senador mais cogitado para substituir o Canalheiros é o Garibaldi Alves, aqui do Rio Grande do Norte. Pois é, parece ironia ou invenção, mas vocês se lembram da história que eu contei sobre o meu encontro com o senador Sarney (vide post "O Ex-presidente do presidente")? Em algum lugar eu disse que o senador tinha ligado do seu gabinete para cada um dos senadores pedindo voto a favor do Canalheiros na CCJ e depois comentei que ia contar como eu havia obtido essa informação (que depois a imprensa divulgou de forma mais mais ou menos irrestrita). Então, irônico que pareça, eu fiquei sabendo disso da boca do próprio senador Garibaldi Alves que também estava na fatídica noite do meu encontro com o Sarney. Essa é uma parte da história que eu ainda não contei e que vai agora no blog.

Pois é, na verdade, antes de nos sentarmos na mesa do restaurante, enquanto ainda esperávamos, o senador Garibaldi Alves chegou também ao restaurante. Minha mãe, que apreciou muito o seu discurso contra Renan no senado, às vesperas da votação na CCJ, foi cumprimentá-lo, sem saber que, na verdade, o Garibaldi estava ali para se encontrar com o Sarney.

Durante todo o tempo que ficamos no restaurante, eu fiquei meio intrigado com o fato de dois sujeitos de visão tão oposta se sentarem juntos em um jantar regado a vinho e camarão, dois dias após a absolvição do capeta (o cadáver da ética ainda nem tinha esfriado). Senti-me, mais uma vez, traído por um representante público, pois também eu fui apertar a mão do Garibaldi à entrada do restaurante. Pô, o cara que deu um brilhante discurso, lavando a alma da nação, contra aquele que é sabidamente um safado cinco estrelas da nossa política, senta-se para compartilhar bons momentos com o outro cara que fez de tudo para salvar a pele do Renan (de tudo mesmo: teve viagem para Minas, teve papo e participação ativa de lobista influente, teve ligação de jatinho, teve senadora virando garota de recado e muito mais que a gente nem imagina)!? Alguém poderia argumentar, mas política é uma coisa e relacionamento pessoal é outra. Olha, sei não, pode até ser, mas me parece que ser pró ou contra Renan é quase uma questão de moral.

Bom, seja Grécia ou seja Tróia, quem leu a história sabe que no dia eu estava meio sem limites. Depois que o Sarney se mandou de fininho (e ele se mandou de fininho).. eu fui... hehe... aliás, essa história do fininho também é legal, e dá pra ver como político é malandro. Vou contar rapidinho. Depois de eu ter botado o dedo no nariz do Sarney, ele percebeu que o clima no restaurante estava meio hostil. As mesas vizinhas à nossa haviam escutado o meu desaforo, havia um cara passando de mesa em mesa para puxar uma vaia contra o senador, e pessoal discutindo exasperadamente a sacanagem da absolvição e outras coisas mais. Imagino que o Sarney tenha percebido aquilo tudo e tenha ficado com receio de ser vaiado em público. Pois bem, a uma certa altura do jantar, levanta o Garibaldi e mais umas duas ou três pessoas e este senador se vira para a minha mãe e pergunta, mui polidamente: "E então, como está o jantar?" E começa a falar de umas trivialidades do tipo "A comida aqui é muito boa, Natal é uma cidade boa para se morar, etc. etc.". Aí a minha mãe falou do Instituto, que eu sou pesquisador, que eu trabalhava lá e que o governo devia investir mais em ciência e tecnologia e blah, blah, blah... Enfim, assim como do nada ele começou a conversa, do nada ele a terminou e voltou a se sentar na sua cadeira. Então se deu a mágica: tcham, tcham, tcham, tcham!!! Cadê o Sarney!!! Ohhhhhh! Ele sumiu!!!!! Nada nessa manga, nem nessa outra, os meus dedos é que são mais rápidos que o olho humano... (aliás, a prestidigitação avançada é uma habilidade bastante comum entre nossos políticos. Eles roubam e ninguém vê, pricipalmente o Lula, espectador do Brasil). Pois é, o homem tinha desaparecido, a moda Mestre dos Magos, numa manobra planejada e executada a várias mãos. Nisso essa turma é muito boa.

Enfim, voltando para a história principal. Depois disso tudo, de dedo no nariz do Sarney, da mágica do Garibaldi fazendo o Sarney sumir e daquela confusão na minha cabeça, a turma dos políticos resolveu encerrar o jantar, antes de terminarnos o nosso. Como eu já havia dito, eu estava bem soltinho naquele dia. Decidi, então, interpelar o Garibaldi sobre aquela aparente contradição e foi o que fiz. Fui até a mesa dele e perguntei mais ou menos assim: "- Poxa Garibaldi, de coração, me ensina sobre a política que eu quero aprender como é que isso funciona" - massagem no provável enorme ego. "Apenas dois dias depois daquele discurso todo, contra o Renan, o senhor vem aqui e senta ao lado do grande articulador da absolvição do Renan pra comemorar sei lá o quê!? Isso não é meio incoerente não?"

Bom, a resposta que ele me deu (não guardei bem as palavras), foi de que aquele momento nada tinha a ver com política. Sarney estava na cidade para lançar um livro novo (até a essa altura eu não sabia disso) e que ele era um antigo amigo da família Alves, pela qual muito tinha feito (fico imaginando que tipo de benefício que rolou), que eles todos eram muito gratos a ele e etc. e tal. Ele contou com uma certa riqueza de detalhes que o Sarney ligou para o gabinete dele e pediu que ele (o Garibaldi) fosse até o seu escritório, pois tinham que conversar. O Garibaldi, macaco véio, respondeu por telefone que não ia, que era pra não ficar chato entre eles, que já tinha decidido e ia mesmo votar contra o Renan. O Sarney aceitou. Depois, no dia seguinte, minutos antes da votação, a Roseana teria ido ao escritório do Garibaldi, numa nova tentativa, sem sucesso também, de conseguir o voto do Garibaldi. Aliás, um detalhe: se a votação secreta dificulta conhecermos as verdadeiras intenções e atuações de nossos representantes, que fiquem registrados dois votos certos pró-Renan: Sarney e Roseana. De qualquer maneira, a impressão que eu tive do Garibaldi foi um equilíbrio esquisito de consolo e desgosto. Não só pelo posicionamento no mínimo intrigante, talvez dúbio, mas, sobretudo, por um aspecto que ignorei por toda a minha vida de eleitor: a postura pessoal presencial (talvez por nunca ter tido chance). E nesse quesito, tive desgosto. Um sujeito meio pachorrento, de fala mole, meio enrolada, um tanto de cima pra baixo, recheada de reticências e sem a substância esperada.

Enfim, a resposta dele me convenceu naquela hora, ainda que com certa ressalva. Hoje eu me indago sobre esse senador, o Garibaldi Alves. Se ele é o cara da energia e da coerência do discurso contra o Renan, ou se é mais um velho coronel da política, macaco velhíssimo, beneficiário do modus operandi da riqueza e do poder, cheio de artimanhas, conluios e armações. Sei não. E é por isso que dei o título que dei a esse post. Sai o Corisco da campanha do Gabeira e entra o Lampião, que é bandido e herói ao mesmo tempo. É herói principalmente aqui no nordeste. Pode ser que seja, pode ser que não seja e é a história que vai mostrar a que vem o Garibaldi. Acho que pior que Renan é difícil... será? Enfim, vamos ver...

Ah! Quase um P.S.: ando cercado de política e de políticos. Parece que Brasília veio para Natal. Despedindo-me de meus pais no aeroporto e, naturalmente, aguardando horas pelo vôo atrasado, quem é que surge no saguão do aeroporto? O senador Cristóvão Buarque. Olha, prestando atenção no quesito postura pessoal, esse sujeito atrai o meu voto (ainda que sem certezas absolutas). Parou para cumprimentar todos que o interpelaram, sem seguranças ou puxa-sacos ao redor, dando atenção e trantando as pessoal com olhar horizontal. Gostei... quem sabe o que vai rolar em 2010?

P.S.2: mais ou menos umas duas semanas após essa história toda, o Garibaldi Alves aparece na TV, não sei se em rede local ou nacional, fazendo propaganda política do PMDB e conclamando cidadãos para se filiarem ao partido. O interessante é que ele começa a fala dele mais ou menos assim: "Nós sabemos que a juventude anda desiludida com a política atual, mas nós precisamos da força do jovem no nosso partido!" Será que ele estava me convidando a fazer parte do partido dele? Hehehe!!!

Aquele forte abraço!
Vinícius

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Web engajada

Caros amigos,

não tenho dúvidas que a grande maioria de nós, navegantes virtuais pela supervia da informação, fica indignada com toda e cada notícia de crueldade que ocorre mundo afora. Quem não fica comovido com as crianças etíopes que morrem de fome por absoluto abandono do resto do planeta? Quem não se entristece ao ler que dia após dia a ganância do homem consome o planeta como se fosse um glutão frente a um banquete? Quantos não se revoltam com os maus tratos às mulheres que é prática comum em algumas culturas? Quem não se enfurece com a nossa política e quem não fica desesperado ao saber que há governos ditatoriais que furtam toda a liberdade de cidadãos ao redor do mundo, em função da manutenção do poder tirano?

Pois é, eu também fico e, na maioria das vezes, copio a atitude de todo mundo mais: vocifero revolta, faço cara de horror, remexo-me na minha cadeira e depois vou buscar mais café para terminar de ler os emails. É pão e circo meus caros, pão e circo. Apesar de pagar impostos aviltantes, ainda tenho pão e circo que me amarram à minha confortável cadeira de escritório.

Por outro lado, considero-me um pouco mais engajado do que o brasileiro médio (não vou falar disso agora, pois detesto auto-promoção, quem quiser que me pergunte depois), ainda que esteja a anos-luz de distância de ser um avatar do engajamento sócio-político mundial. É que, além de algumas quase simbólicas atitudes diárias pró planeta, tornei-me recentemente um assíduo contribuidor assinante de um grupo da web de engajamento político com ampla atuação e considerável influência sobre organizações decisórias das políticas internaiconais. É desse grupo que quero falar hoje.

Trata-se da Avaaz, um grupo de ativismo político e ecológico, formado por cidadãos engajados de todo mundo e reunidos pela maravilha da Internet. Basicamente, o que o grupo faz é divulgar os alvos de seu ativismo, recolher assinaturas e fundos e, de posse desses intrumentos, pressionar dirigentes para que tomem atitudes que vão ao encontro dos pensamentos da organização. Estes, por sua vez, representam a opinião pública global, recheados do bom senso de alguns intelectuais da organização.

Nunca doei dinheiro (trauma tupiniquim, talvez), mas assinei digitalmente todas as campanhas lideradas pela Avaaz, sobretudo por estar totalmente de acordo com os posicionamentos de seus organizadores, que sempre me soaram muitíssimo sensatos. Ainda que não tenha a disposição de ir direto para o front do ativismo, como me associar a uma ONG largando tudo para trás no Brasil, acho que faço um pedaço da minha parte cada vez que clico no botão do site da Avaaz. E por isso recomendo a todos conhecer o trabalho dessa turma. Basta acessar o site http://www.avaaz.org/ .

O objeto atual do ativismo da Avaaz são os protestos pró democracia realizado pelos monges de Mianmar (antiga Birmânia) e fortemente reprimidos pelo governo ditatorial do país. A foto abaixo, plubicado no site do G1, fonte Reuters, mostra os monges enfretando as forças militares em seu protesto. Lembro que essa foto é uma conquista, pois o governo agora controla a Internet de Mianmar e dificultou muito o trabalho dos jornalistas no país.


Um abraço a todos!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O ex-presidente do presidente

Caros amigos,

como alguns de vocês devem saber, eu sou uma pessoa que se interessa por política. Gosto de a ler e a discutir e, apesar de estar muito longe de ser um expert na área, acho que sou capaz de conversar e entender o tema com razoável propriedade. Felizmente ou não, tenho a forte característica de passionalidade pelo assunto. Ou seja, mais do que racionalizar a política eu a sofro, intensamente. Portanto, é evidente, mesmo para o mais leigo no tema, que meu coração brasileiro tem padecido horrores nestes últimos dias.

Entretanto, apenas dois dias após a absolvição do Renan Canalheiros no senado, essa situação se reverteu, pelo menos um pouco. E essa história eu gostaria de contar aqui.

Nesse mês de setembro, os meus familiares vieram de Belo Horizonte para me visitar em Natal. Eu, como bom anfitrião, resolvi levá-los no que há de melhor em termos de camarão na cidade, que é o restaurante com o nome do bicho, o Camarões, ali a beira-mar em Ponta Negra. O restaurante estava cheio e para agilizar a mesa, deixei o pessoal na fila enquanto fui estacionar o carro. Percebi uma movimentação diferente na rua. Estava mais cheia de carros e pessoas. Um pessoal diferente circulando, parecendo seguranças e escoltas. Enfim, pensei estar imaginando coisas e deixei pra lá.

Foi no reencontro com a minha família, no belo e lotado saguão do Camarões que eu entendi o porque do rebuliço: vossa excelência ex-presidente da república, o senador José Sarney (PMDB-AP) havia acabado de entrar no restaurante. Naturalmente, ele foi imediatamente acomodado na mesa, sem ter que esperar junto aos comuns. Então, fiquei sabendo que ele estava na cidade para fazer o lançamento do seu último livro. Acontece que o Sarney foi o grande articulador no senado para que seus pares votassem absolvendo o presidente da casa, Renan Canalheiros. Este fisiológico senador, pelo que fiquei sabendo (depois lhes conto como), ligou de seu gabinete para cada senador da casa solicitando conversas particulares afim de convecê-los a votar a favor de Renan.

Pois bem, já me encontrava furioso com o episódio sacana da absolvição do Renan no senado dois dias atrás e havia acabado de perder a minha vaga na rua para um segurança Bad Boy (que vim a descobrir que era da turma dos políticos) que pilotava uma pick-up modelo nunca-conseguirei-comprar. Quando fiquei sabendo que homem estava na casa, como diria um bom e antigo amigo, meu sangue talhou. É a paixão, eu sei, vou acabar morrendo disso. Mas talhou e me fez querer ir até a mesa daquele senhor e botar pra fora anos de mágoa com a política.

Creiam meus amigos, no atual nível de indignação em que me encontro, eu faria isso, até o ponto de me atracar com os seguranças. Pois ainda que a não violência me seja sagrada, não tenho certeza se permaneceria nas palavras de alto-calão. Mas, as minhas rédeas conversavam ao meu lado, bebendo cerveja. Era o dia da minha família que, apesar de compartilhar mais ou menos da minha indignação, queria se divertir, sem que a situação ganhasse a valência emocial que eu a atribuía. Conformei-me em mais uma vez represar a minha voz e perder a oportunidade única de me manifestar, implodindo o setor político do coração, mesmo que com muita dor.

Mas assim como os garçons serviam as bebidas, a vida me brindava com ironia, pois não é que fomos encaminhados para mesa imediatamente ao lado da do senador!? Após me sentar, levei alguns minutos para me perceber que o referido senhor Sarney estava ali, há poucos metros de mim, ao perfeito alcance de uma tão desejada ovada. Enfim, fiquei remexendo os escombros da implosão tentando apagar o incêndio e começar a sorrir para a minha esposa.

A mesa do senador estava lotada e como todo bom Godfather, a renca de puxa-sacos não parava de chegar. Nós, por outro lado, contávamos com uma mesa praticamente vazia para acomodarmos não mais que bolsas e garrafas de cerveja vazias.

Aí oportunidade serviu-me o prato principal do dia. A pedido do senador, que a essa hora já estava em pé conversando com os recém chegados, e sob seu olhar inspetor, o garçom se dirige a mim e mui polidamente me solicita a mesa para que os convidados do político pudessem se acomodar. Mas nem que eu tivesse sangue de barata e a ocasião se faria vazia e negligente. Mas nem que sugassem de mim todos os meus neurônios eu ficaria calado. Minha indignação já é reflexo medular. Mirando com ódio aqueles olhos pachorrentos caídos logo acima do bigode seboso, pus o dedo e riste e proferi - ah maldita polidez que não me deixou ir além:

- Divido a mesa sim, mas que saibam vocês que não é por conta desse senhor que aí está, pois que com ele estou muitíssimo irritado. Faço isso pelos familiares e amigos dele, que nada tenho contra, mas nunca por conta desse senhor. Pode levar!

O garçom, esse nobre brasileiro, ficou meio apetatado, porque nunca esperaria essa reação. Ainda assim cumpriu dignamente a sua função de servir a todos. O senador Sarney, que por uma obra feliz do destino (pelo menos para mim) escutou com olhos e ouvidos atentos cada palavra que eu dizia, limitou-se a balançar a cabeça num gesto de concordância, permancendo calado. Os seus convidados se agitaram. Meus familiares vibraram ou se constrageram, minha neném chorou e esses dois últimos incêndios levei algum tempo para apagar.

Mas o coração se reconstruiu e a vontade política se refez. No popular: lavei a alma. Não tenho a menor idéia se o episódio vai fazer alguma diferença em como o Sarney faz a sua política. Na verdade, parece-me meio óbvio que não. E mesmo que fizesse, o problema do Brasil não se resolve com Sarney e nem mesmo com o Renan sendo cataputaldos para Plutão. Apesar de ser um começo, o problema é bem mais intenso e complexo e passa, na minha opinião, por uma reformulação completa dos valores da nossa sociedade. Entretanto, tenho a impressão, talvez demasiada inocente, de que eu incomodei o senador. E tal como no efeito borboleta, esse pequeno ato pode, talvez, fazer toda a diferença.

Mas isso não importa tanto quanto o fato de que eu expressei ao menos uma indignação que foi registrada. Se isso ficar mais comum entre os indignados, talvez cheguemos a uma massa crítica capaz de mudanças de fato. Por outro lado é importante que a crítica seja refletida e bastante consciente, sem ser moldada pela mídia da oposição (ou o detestável adjetivo "golpista") ou pela mídia chapa branca.

Meu entendimento, no final das contas, é que o país se beneficiará com o Renan cassado ou, no mínimo fora da presidência do senado. Portanto, aproveito o ensejo da história e da opinião e vou aderir a campanha idealizada pelo Fernando Gabeira: "Se entrega, Corisco", numa inteligente referência ao cangaceiro apadrinhado por Lampião. Ali em cima já coloquei o banner da campanha. Quem quiser saber mais: http://www.gabeira.com.br/.

Então é isso, um forte abraço brasileiro a todos!

Tomorrow Jazz

Queridos amigos,

faz um tempo que eu não passo por aqui para atualizar esse blog. Acreditem, eu que sofro mais por causa disso. Na verdade, essas últimas semanas desde a última postagem tem acontecido tanta coisa que faltou tempo de logar e escrever para vocês (ou para mim mesmo). Roulou muita coisa por aqui, ainda mais com a visita da minha família e a da minha esposa. Tem dedo na cara de senador, tem apnéia em Maracajaú e surfe em Cotovelo, tem protesto contra o Renan e bem mais. Portanto fiquem ligados que nos próximos dias vou postar bastante coisa por aqui.

Por enquanto, deixo vocês com uma sugestão de genuíno e sublimado prazer musical para quem gosta de escutar um som enquanto trabalha. É simples: basta acessar o web radio Live365 (http://www.live365.com/) e lá buscar a estação Tomorrow Jazz.

Pra quem curte um lounge, acid jazz, nu jazz, jazztronica, chill, a estação Tomorrow Jazz é excepcional! Recomendo também a aquisição do VIP Package, que é a versão paga da subscrição, que te permite ouvir a rádio sem comerciais e interrupções. E acreditem, eu não estou ganhando nada do site, viu!? Hehehe...

Um abraço!
Vinícius

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O blog e seus recursos

Caros amigos,

um blog na Internet é uma interessante ferramenta para alguém que deseja compartilhar idéias, opiniões e recursos online. Não só posso transfomar meus pensamentos em textos publicados em um espaço de conveniente visibilidade e visual agradável, como também posso deixar disponível aditivos bastante funcionais, como listas de links úteis, feeds e listas de coisas interessantes. Então, permitam-me apresentar a vocês alguns desses extras do meu blog que podem passar desapercebidos ao olhar incauto.

Já faz algum tempo que conto bastante com alguns sites que me ajudam a desempenhar a minha profissão (cientista) ou a de me entreter. Aqui do lado esquerdo, há uma lista de links científicos e de entretenimento que julgo os melhores da web no momento, ou os mais importantes para mim. Quem quiser saber mais da minha trajetória científico-profissional, pode dar uma olhadinha no meu curriculum na plataforma Lattes. Tem também os links para os três centros de pesquisa aos quais estou vinculado de uma forma ou de outra: o Instituto Internacional de Neurociências de Natal - Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), onde atualmente realizo o meu pós doutorado, o Núcleo de Neurociências da UFMG (NNC), onde fiz meu doutorado e é uma casa que muito amo por ter me ensinado tudo que sei de ciência e o laboratório do Miguel Nicolelis, brilhante neurocientista brasileiro e presidente fundador do IINN-ELS. Tem também o link para o Neurolab, um completo recurso online para quem quer saber mais de Neurociência. Gostaria de destacar esse último site, que foi desenvolvido pelo Dr. Guilherme Cunha, médico pela UFMG, neurocientista mestrando do NNC e grande amigo meu (anotem esse nome). Lá tem bastante informação sobre a neurociência básica e clínica, além de um belo banco de dados de imagens na área. O último link é o da Stereo Deluxe, um selo europeu de música lounge da melhor qualidade. No site dá para baixar algumas músicas e escutar outras online (desalibilitem o bloqueador de pop-ups!). Em particular recomendo Tim Love Lee, Brazilution e The Strike Boys.
Mais abaixo, listo alguns livros que li e que fizeram grande diferença na minha forma de encarar o fenômeno da vida e da religião - menção honrosa para Steven Pinker. Por fim, bem no fim da página (no fundo mesmo), tem dois RSS feeds de sites que sempre leio. O primeiro é o blog do Dr. Miguel, no G1, trazendo notícias interessantes dos seus desenvolvimentos científicos e do projeto IINN-ELS no Rio Grande do Norte. O segundo feed é o divertidíssimo PhD Comics (Piled Higher and Deeper), um cartoon feito pelo Jorge Cham de Stanford que retrata com ironia quase cruel a vida (ou a falta dela) dos alunos de pós-graduação (cloquei umas tirinha mais abaixo).
Vai passando o tempo e aos poucos vou incluindo mais coisa para o entretenimento de todos. Vou devagar, já que quero recolher só o que há de melhor por aí. Enfim, aproveitem.
Abraço!


terça-feira, 14 de agosto de 2007

The road not taken

Na ciência a gente aprende a importância de se dar o crédito devido ao indivíduo que teve uma idéia original. Por isso, gostaria de dizer que o título desse blog é inspirado na brilhante poesia de Robert Frost (reproduzida mais abaixo). Escutei-a pela primeira vez através do amigo Márcio Moraes (do qual falarei mais depois), que além de recitá-la com propriedade, viveu-a intensamente durante os anos que tive a sorte de passar ao lado dele. Acabei vivenciando a bifurcação e a estrada também. Feliz de mim, pois a essência dela significou verdadeira quebra de paradigma no meu caminhar. Bom, tenho certeza que terei tempo para falar disso aqui. Por enquanto, deixo vocês com o Frost.
Um forte abraço!



The Road Not Taken - Robert Frost (1920)



TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;


Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.

Oh, I kept the first for another day!

Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.


I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Breve introdução

Caros amigos, caros desconhecidos, bem-vindos.

Já faz algum tempo que tenho vontade de montar um blog para mim. Essa vontade começou a extrapolar para a ação há cinco dias atrás e culminou na criação deste blog hoje, dia 14/08/07. Permitam-me contar esta história, simples, mas significativa para mim.

"He says: Phoenix, Texas,...[ ] midwest term, so much to learn... together." Assim começa a letra de uma das mais belas músicas que já escutei, chamada Together da banda Future Folk.

Na verdade, não conheço qualquer outra música dessa banda e escutei essa canção quase que por acidente. É que há uns dois meses atrás, ganhei um MP4 player numa premiação do Workshop do meu programa de doutorado e fui correr atrás de uns MP3's que eu tinha para encher a memória de 1GB do meu modelo Titan. Para alguns mais aficcionados com música pela Internet, essa seria uma tarefa fácil. Para mim, que tenho pouca paciência para downloads longos, sem acesso a programas peer-to-peer para troca de arquivos, foi um tanto mais difícil. Juntei os CD's antigos de dados, dei aquela peneirada e descolei uns 500 MB de boas trilhas (na minha opinião), no máximo. Achei que precisava de mais horas de música. Aí lembrei de um site (http://www.stereodeluxe.com/), com excepcionais lançamentos de música lounge, que permitia o download gratuito de MP3 para fins de divulgação. Fui lá e baixei tudo que estava disponível, mesmo sem nunca ter escutado antes e joguei para a memória do brinquedo. Entre elas, estava a "Together" do "Future Folk". Quando consegui chegar na marca dos 800 MB de música e vídeo, além de alguns backups importantes, dei-me por satisfeito e fui embora escutar minhas músicas. De fato, faz dois meses que uso, ainda que com baixa freqüência, o MP4, mas, sei lá por que cargas d'água, só na semana passada fui prestar atenção nessa música.

E que música bonita, que surpresa agradável. Pelo menos para mim foi. É como descobrir aquele pedaço frio de pizza de palmito na geladeira quando você chega de madrugada após um dia pesado de trabalho. Pelo menos para mim é. Uma balada suave, constante, com vozes estilo telejornal na madrugada e obscuros sons escondidos de metrópole e estrada, numa composição inspiradora, remetendo a longas viagens do corpo e do pensamento. Somou a isso a ocasião de um momento mental especial (tinha um resto de coca-cola gelada e com gás bem atrás da caixa da pizza). Nada de mais na situação exterior, mas sim no íntimo pensamento. Da entrada do instituto, mirava um pôr do sol atrás dos prédios da cidade de Natal, dando um brilho especial em uma estreitíssima faixa da rodovia 101 ao alcance da visão, por onde os carros e caminhões passavam acelerados.

Pensei a estrada. Pensei a vida, a minha e a das pessoas mais próximas. E gostei do que lembrei. Acho que, de coração, tenho vivido muito bem. Tenho feito boas escolhas pela vida. Não me arrependo dos erros, sinceramente, acho que eles me ensinaram muito. Acho que tenho crescido, amadurecido, em acelerada velocidade e em muitas direções. Ainda estou longe de ser um neurocientista brilhante como o Márcio, o Sidarta ou o Miguel, mas acredito que posso chegar perto daqui há alguns anos. Não sou nem o pai, nem o marido perfeito, mas estou ficando melhor nisso a cada dia que passa. Não ganho muito dinheiro, mas tenho feito crescer o pequeno patrimônio da minha família. Não sei discorrer com propriedade sobre todos os assuntos da filosofia, da ciência e da arte, mas sei me inspirar honestamente por cada uma delas porque nelas eu já caminhei, algumas mais, outras menos. Enfim, estou muito longe de qualquer destino, mas muito perto da estrada, curtindo cada reta e cada curva, todo buraco e toda paisagem, vislumbrando o horizonte, contando os quilômetros e com pé equilibrado entre acelerador e freio.

Acimo de tudo, digo com tranqüilidade, que todos os caminhos que escolho são os melhores, não por serem os certos, mas por serem os meus.

Portanto, para relembrar todas essas estradas e paisagens da vida que passou e as novas que vão vir por aí, resolvi montar esse diário de viagem digital. Sim, absolutamente estou em viagem, por essa longa estrada do pensamento sinuoso. Não tenho a menor pretensão de iluminar alguém, ou de distribuir conselhos de almanaque, ou ainda de ser uma válvula de escape ou catapulta de auto-ajuda. Absolutamente não tenho condições espirituais de fazer isso. Por outro, se alguém encontrar aqui algum tesouro valioso para a própria vida, fico feliz. Mas fico ainda mais realizado de souber que esse alguém que aqui passou segue fazendo seu próprio caminho, pleno e sincero consigo mesmo. Atingirei o Nirvana, se souber que alguém tomou os rumos de si mesmo ao passar por aqui, para cutir qualquer onda que é possível nessa vida, mas uma onda genuinamente sua.

Por isso, não tenham dúvida, eu vou curtir muito fazer esse blog, muito mais do que qualquer um vai curtir ler. E olha que eu acho que vou colocar coisas interessantes por aqui...

Um grande abraço a todos!

Vinícius